Palco de amor verdadeiro

    "Ma quando arriva la notte, la notte/E resto sola con me/La testa parte e va in giro/In cerca dei suoi perchè/Né vincitori né vinti/Si esce sconfitti a metà/La vita può allontanarci/L'amore poi continuerà..."

    Costanza é uma bela mulher. Feições harmônicas, cabelos negros, estatura ideal para uma cobiçada figura humana... Mas os olhos... Ah!!! Os olhos... Costanza tem olhos de um azul tão impressionante que costumam compará-los a jóias de "lápis-lazúli". Mas, há quase um ano, perderam o brilho que lhes era peculiar... Hoje são olhos de uma solitária... De quem deixou de acreditar na felicidade.
    Costanza, moça do interior, foi para Milão com dezesseis anos. Desejava experimentar a vida na cidade grande... Ansiava por deixar para trás o trabalho nas videiras cultivadas pelos pais... Queria encontrar um lugar no mundo que mais a alentasse... 
    Os primeiros dois anos em Milão foram de agradáveis descobertas. Conheceu pessoas... Fez amigos... Tornou-se indispensável no dia-a-dia da loja onde exercia atividades profissionais. Sobravam jovens interessados em receber um pouco de sua atenção. Foi Domenico, entretanto, quem roubou seu coração.
    Ao longo de cinco anos Domenico foi, para Costanza, um porto-seguro. Os amigos dele tornaram-se próximos dela... Costanza organizava sua agenda de acordo com a de Domenico... Ela vivia para Domenico. Mas ele merecia tanto? 
    Falta de resistência
    Domenico... Pois é... Domenico, ao invés de levar em conta o extremo amor que estava ao seu alcance, ficou em dúvida diante da avaliação de pessoas que sempre lhe tinham sido de grande credibilidade (familiares). São coisas da vida. "O que eu sinto. Sim. O que eu sinto nem sempre é aquilo que está verdadeiramente no meu coração". Então Domenico, fraco, optou pelas doutrinas exteriores ao invés de enxergar o que estava bem nítido no seu interior. 
    Perder um amor tão puro e intenso, como o de Costanza, não é a maior das derrotas. O fracasso mesmo se constata quando se tem a certeza de que o rumo tomado não é o ditado pelo coração. Resumo: Domenico deixou de viver o amor da sua vida porque valorizou palpites e tomou um rumo afetivo/amoroso não planejado e, sequer, jamais pensado...
    Costanza, face à decepções presentes na relação com Domenico, optou por uma reavaliação de vida. Bastou este sinal de desistência, de uma irremediável decepção,  para colocá-la em plena luz de um caminho irrecusável de todo ser humano que almeja um contato afetivo. Domenico... "Amor da minha vida. Você seria o meu início e o meu fim. Só que, assim, parece que você não quis... Viverei, portanto, nos escassos fiapos de felicidade que a sua lembrança possa me permitir."
    O caminho era outro
    Costanza, como todas as mulheres que florescem para o mundo, tem a tendência de mais oferecer do que receber. Eu, particularmente, só planejei o amor em plenitude que posso oferecer. O que mereço receber... Esse eu espero como retribuição. E saiba você... Sempre recebo mais do que espero... Assim você tem uma ideia do que eu desejo aos demais seres deste mundo: amor. Amor hoje, amanhã, sempre.
    Não é exceção Costanza nesta história. Eu a incluo no contexto dos que (homens e mulheres) sonham com o amor perfeito. Quem sonha com o amor perfeito nunca pensa no receber. Só pensa no oferecer. E é aí que está a raiz do conflito: Costanza dispunha-se plenamente ao oferecer. Mas o que se apresenta como resultado dessa abertura é apenas o receber. Difícil alguém se conformar assim. 
    Costanza não se conformou. Felizmente Costanza não se conformou. No seu íntimo algo induzia à certeza de que teria o amor sonhado. O amor muito além do que aquele que estava presente. Estava certa Costanza. 
    Numa segunda-feira de outono Costanza saía do supermercado quando, inesperadamente, foi interceptada por um menino. Um menino bom. Digamos: um anjo em forma de menino. Depois de causar a derrubada de suas compras na calçada este menino fez uma tentativa de explicação... 
    Não foi preciso explicar... Costanza, ainda surpresa  pelo espalhar de suas compras na calçada, se deparou com o jamais esperado... Um belo homem, de 28 anos, parecia ter esperado aquele episódio ao longo de toda a sua vida. Era algo mágico. Inacreditável. No atrapalho do recolhimento de mercadorias caídas na calçada surgia uma imagem sonhada mas jamais desenhada de forma concreta. 
    Domenico... Pois é... Domenico, a partir daquele homem tão celestial/impressionante, se tornava uma molécula no mundo afetivo de Costanza. Estava aí a porta aberta para o caminho do verdadeiro amor? Estava! Não se sabe se, por milagre ou por magia do momento, Costanza e Antonio saíram de mãos dadas desse episódio.
    Preciso, no entanto, lhes informar um detalhe... Pelo que sei: Antonio e Costanza continuam de mãos dadas. Às vezes vão ao mesmo supermercado só para recordar o momento do precioso encontro. Agora sem menino para derrubar mercadorias. O amor, quando as pessoas o observam, se esparrama indisfarçadamente. É assim... Como as fábulas que gosto de ler nos livros da minha biblioteca... Costanza e Antonio são felizes para sempre.
    Costanza e Antonio são prova do pleno amor. Do sentimento que justifica a existência de todo ser humano. Os desencontros ficam fadados ao esquecimento. Só o que interessa é a vida que se constrói a partir da constatação da plena felicidade.
    P.S. Antonio jamais imaginaria se apaixonar irremediavelmente... No entanto: Costanza... "Se não for Costanza... Quem será? Quem ocupará esse angustiante vago do meu coração? Quem enfeitará o resto dos meus dias com olhos azuis tão belos? Quem tem nos olhos a cor exata que desejo? Quem?". (Autora: Aline Brandt - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais N° 9610/98)

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