Viagens da minha infância

    Alguns de meus familiares costumam dizer que tenho boa memória... Pelo menos no que diz respeito ao passado (memória remota) preciso concordar...
    Lembro-me, com riqueza de detalhes, de várias passagens da minha infância. Fui, como já escrevi neste blog, uma criança muito feliz. O meu mundinho, de poucos recursos financeiros mas de muito amor, era perfeito. Não existiam preocupações. Meus dias, que pareciam "infinitos", eram divididos entre fazer amigos e brincar. 
    Entre as mais agradáveis lembranças, dos meus tempos de criança, estão as viagens de caminhão na companhia dos pais e de irmãos. A gente gostava tanto que nem se dava à paciência de parar em restaurantes. Fazíamos comida, à beira de estradas, com um fogareiro que meu pai costumava carregar numa caixa embaixo da carroceria do caminhão que dirigia.
    Meu pai Celito Brandt foi, por muitos anos, motorista de caminhão. Passava pouco tempo em casa. Tinha o hábito de levar, quando os filhos eram pequenos ou estavam em férias escolares, toda a família em suas viagens.
    Eu costumava dizer, quando criança, que se fosse menino seria motorista de caminhão. "Porque os motoristas de caminhão passam os dias viajando... Conhecem pessoas... Visitam lugares bonitos." A menina Aline Brandt achava que, dentro de um caminhão, podia ir onde quisesse sem preocupação com tempo e dinheiro.
   Eu adorava estas viagens de caminhão por diversos estados brasileiros... Eram momentos de contemplação. Dentro da cabine de um caminhão era possível enxergar longe. Casas, paisagens, pessoas, cidades... Tudo ia ficando para trás. Mas as lembranças... Bem... As lembranças... Estas permanecem até hoje.
    Viajávamos, a maior parte do tempo, com as janelas abertas. O efeito do vento desarrumando meus cabelos era maravilhoso... Me dava uma indescritível sensação de liberdade. Parecia que estávamos rumando para o paraíso. E não nego que o sentimento de descompromisso com o agora e o depois - que me contagiava nessas inesquecíveis viagens - tinha mesmo sabor de paraíso.
    Recordo que não me importava com o fato de passar horas e horas dentro da cabine do caminhão. Quando a família toda viajava não se tinha muito conforto. Mesmo assim eu gostava. Bons tempos aqueles. Dinheiro não sobrava... Amor, contudo, havia em abundância...
    Ainda vou ter uma conversa com seu Celito Brandt (aposentado há mais de cinco anos). Nunca fui uma menina de grandes exigências. Acho que agora já posso até abusar um pouco. Vou sugerir ao meu pai que, pelo menos mais uma vez, circule pelo Brasil com a família toda na cabine de um caminhão. (Autora: Aline Brandt - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais N° 9610/98)

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