O amor na rota da promessa - parte 4

    Laura levantou cedo... O apartamento onde morava ficava em um bairro afastado do hospital... O trajeto de ônibus, até o centro da cidade, levaria quase uma hora. "Este emprego é sobremaneira importante para eu continuar auxiliando as crianças do orfanato. Vou fazer o que estiver ao meu alcance para conseguir mais esta oportunidade de trabalho" - pensou.
    Laura chegou ao hospital antes das 8 horas. Para sua surpresa Tarso a aguardava, com um sorriso, na recepção...
    - Bom dia Laura... Como você está? - quis saber Tarso.
    - Estou muito bem... Ansiosa com a possibilidade de conseguir o emprego... Preciso, mais uma vez, lhe agradecer por tudo que tem feito por mim - falou Laura.
    - Não há necessidade de agradecer. Só estou agindo conforme o que dita o meu coração... A Luciana, diretora de recursos humanos, já chegou. Conversei com ela. Agora só depende de você. Mas acho que, no final da tarde, teremos motivos para comemorar. Que tal sairmos para tomar um café? - sugeriu Tarso.
    - Mesmo se a vaga for preenchida por outra pessoa faço questão de lhe oferecer um café. Preciso retribuir o carinho e a atenção que tem dedicado a mim - observou Laura.
    - Então fica combinado. Passo, no final da tarde, no Centro de Assistência Social. Conheço um lugar, pequeno e aconchegante, onde servem um café delicioso. Tenho certeza de que gostará - comentou Tarso.
    Tarso e Laura se despediram em seguida. Tarso foi direto para o consultório. Sua agenda de compromissos estava lotada. Laura, por sua vez, pôde conversar com Luciana por mais de meia hora.
    - Foi um prazer conhecê-la. Será bom tê-la em nosso quadro de funcionários - mesmo que temporariamente. As recomendações vieram de um dos nossos mais notáveis médicos. E suas referências são excelentes  - disse Luciana.
    - Esta é a melhor notícia que eu poderia receber neste momento... Fico extremamente grata pela confiança. Quando começo? - perguntou Laura
    - Venha até o hospital na sexta-feira. A Tatiana, nossa assistente social, lhe explicará o que for preciso. Traga cópias de documentos pessoais e comprovante de residência. O treinamento, de uma semana, começa na próxima segunda-feira. Aproveite este tempo, ao lado da Tatiana, para dirimir todas suas dúvidas. Depois ela entrará em licença maternidade e o setor de assistência social ficará sob sua responsabilidade - explicou Luciana.
    Impressionante afinidade
    Laura e Tarso se encontraram no final da tarde... Conversaram, no trajeto entre o Centro de Assistência Social e a cafeteria, sobre assuntos diversos... A cafeteria estava lotada. Foi preciso paciência para conseguir uma mesa. Tarso e Laura, contudo, não se importaram em esperar. A conversa fluía com naturalidade. Parecia que eram velhos conhecidos...
    Assim que conseguiram um lugar Tarso e Laura pediram café. Como acompanhamento torta de chocolate e salgados diversos - sugestão de Tarso.
    - Que lugar encantador - comentou Laura.
    - Quando era criança costumava vir aqui na companhia dos meus pais. Meu pai trabalhava muito. Quando estava de folga trazia, minha mãe e eu, para comer torta de chocolate. Eu esperava, com ansiedade, por estes momentos em família - confidenciou Tarso.
    - Seu pai também é médico? - quis saber Laura.
    - Meu pai já está aposentado. Posso lhe dizer, entretanto, que foi um cirurgião plástico muito conceituado. Até hoje me critica por não ter seguido seus passos... Eu não o culpo. Afinal: obrigou-se, quando decidiu se aposentar, a vender sua renomada clínica para um colega. Foi um momento de muita tristeza para ele - relembrou Tarso.
    - Desculpe a franqueza... Acho que seu pai deveria se orgulhar da opção que você seguiu... Você já salvou muitas vidas... Especializar-se em oncologia foi um ato bastante nobre de sua parte. Poucas pessoas seguem este caminho na medicina. É preciso dedicação e profundo amor - disse Laura.
    - Tenho certeza de que ele me admira... Só que não se conforma por ter passado a clínica, que foi construída com bastante sacrifício, para pessoas não ligadas à família - revelou Tarso.
    Não era tarde quando Tarso levou Laura para casa. Ambos precisavam começar cedo a jornada do dia seguinte. A despedida se deu, mais uma vez, com carinhoso abraço. Depois desse breve boa noite Tarso permaneceu, em frente ao pequeno prédio residencial, por mais tempo do que o necessário. Relembrava, com ternura, os agradáveis momentos que passara ao lado da mulher que ocupava seus pensamentos e era dona dos seus melhores sentimentos.
    Trabalho
    Para encontrar Laura, todos os dias, Tarso fez algumas alterações em sua agenda... Chegava ao hospital pouco antes das 8 horas e, após visitar seus pacientes, passava no setor de assistência social para com a bela jovem conversar. Seu comportamento não passou despercebido por Bento:
    - Meu caro amigo... Você já não devia estar no consultório? Acho que está realmente apaixonado por esta moça - brincou Bento ao encontrar Tarso saindo da sala de Laura.
    - Modifiquei um pouco minha agenda. Só começo a atender, no consultório, às 9h30min. Assim tenho mais tempo para dedicar aos pacientes internados no setor de oncologia - justificou Tarso.
   - Sei... Vou fazer de conta que acredito. Tenho novidades. Já saiu a sentença do atropelamento. Além de pagar uma multa vou prestar serviço comunitário no orfanato onde o Marcos cresceu - informou Bento.
    - Imaginei que isso poderia acontecer. E quando você começa? - indagou Tarso.
    - Começo amanhã. Serão dez horas de trabalho por semana - durante um ano. Mas estou feliz. Fui até o orfanato ontem. Aquelas crianças precisam de carinho. Carecem de pessoas que realmente demonstrem interesse por elas. Acho que meu trabalho lá será de grande ajuda - confidenciou Bento.
    - Laura me falou de uma conversa que teve com você na semana passada - comentou Tarso.
    - Sim. Conversamos brevemente. Afinal: somos colegas. Ela me disse que não guarda mágoa em relação ao acidente. Que, depois de muita reflexão, tem certeza de que houve uma fatalidade. Garantiu que me perdoa - revelou Bento.
    - Fico feliz por você meu amigo. Agora preciso ir. O trânsito, neste horário, não é dos mais complicados. Mesmo assim não quero correr o risco de chegar atrasado ao consultório - frisou Tarso.
    No final da tarde Tarso foi ao Centro de Assistência Social. Precisava conversar com Laura. "Vou abir meu coração... Acho que já é hora de Laura saber o quanto se tornou importante para mim" - pensou Tarso.
    Uma chance para o amor
    Laura ficou visivelmente feliz ao se deparar com Tarso sentado em um banco nas proximidades do Centro de Referência Social. Seu coração se encheu de ternura e um sorriso iluminou seu rosto. "Como ele está bonito. Ainda não tinha me dado conta do quanto gosto de vê-lo. A presença de Tarso, em minha vida, está se tornando indispensável." Laura foi, então, ao encontro do atencioso e delicado médico...
    - Olá Tarso... Não esperava vê-lo por aqui hoje. Aconteceu alguma coisa? - quis saber Laura.
    - Está tudo bem... Preciso, no entanto, lhe falar de algo importante. Você tem uns minutinhos? - perguntou Tarso.
    - É claro... Sempre tenho tempo para conversar com você - respondeu Laura.
    Laura sentou-se, então, ao lado de Tarso. O coração batia descompassado. As mãos estavam geladas... "O que está acontecendo comigo? Pareço até uma adolescente. Que bobagem me sentir assim na presença do Tarso. Somos amigos" - refletiu.
    - Laura... Você sabe que fiz uma promessa ao Marcos na noite do acidente. Prometi ajudá-la no que for necessário. Só que, desde a primeira vez que a vi, minha vida mudou. Você tem ocupado meus pensamentos - confessou Tarso e, após uma pequena pausa, prosseguiu:
    - Quando você desapareceu, sem deixar pista, fiquei desorientado. Eu a procurei em centenas de lugares. Fui ao seu antigo apartamento... Ao orfanato... Nem conseguia dormir direito. É claro que não queria aceitar que você, em pouco tempo, havia me despertado tão forte sentimento. Achava que minha preocupação se dava em razão da promessa que fiz ao Marcos. Só que depois que a reencontrei o desejo de estar ao seu lado ficou ainda maior. Eu quero estar com você em todos os momentos. Meu coração se enche de ternura toda vez que a vejo. Laura... Não sou tão ingênuo ao ponto de acreditar que meus sentimentos são correspondidos. Quero que saiba, contudo, que quando estiver pronta para um relacionamento não deixe de me dar uma chance.
    Depois de alguns minutos em completo silêncio Laura resolveu abrir seu coração:
    - Tarso... Estou confusa... Não sei definir o que sinto por você. A morte de Marcos ainda é recente. Não posso negar, mesmo assim, que você mexe com meus pensamentos. Que eu também anseio estar ao seu lado. Só não posso lhe dizer se isto é amor - confidenciou Laura.
    - Eu a entendo minha querida. Sei como deve estar se sentindo. Só que ficar longe de você, mesmo por poucas horas, está se tornando difícil. Um martírio. Sonho com a possibilidade de uma chance. Acho que você precisa se libertar para um novo amor. E eu quero ser este novo amor - enfatizou Tarso.
    Laura, depois de alguns segundos de vacilo, fixou seus olhos em Tarso e fez o que até então era inimaginável... Aproximou-se e, entre tímida e trêmula, o beijou. Foi um leve roçar de lábios mas cheio de ternura. Nada mais precisava ser dito naquele momento. Laura e Tarso saíram, então, de mãos-dadas. O passado estava sendo deixado para trás. O futuro ainda seria desvendado. O presente? Ah! O presente!!! Este se mostrava inspirador de uma colossal paixão. (Em breve a quinta e última parte deste conto - Autora: Aline Brandt - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais N° 9610/98)

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