Jardim de margaridas

    Estou a observá-la dormir. Cabelos brancos e macios. Expressão serena no rosto marcado pelas linhas do tempo. Imagino quantas histórias guarda em seu coração. Histórias que não conta porque acredita não interessarem a ninguém. E, em tempos de pouco calor humano e muita correria, talvez não interessem mesmo.
    Ela espera o dia em que será, mais uma vez, admirada. Não pela beleza - que nunca foi seu forte. Mas pelos obstáculos superados... Pelas conquistas obtidas mesmo em tempos de dificuldade... Pelo amor que dedicou sem esperar algo em troca.
    Para ela as coisas não aconteciam com facilidade. As dificuldades, porém, não foram motivo para desistir dos sonhos que carregava, desde menina, no coração.
    Seguiu seu caminho, repleto de pedras, sempre com um sorriso a iluminar as faces. Espontânea... Jamais deixou de externar sentimentos. De oferecer abraços carinhosos... Elogios sem motivo aparente. Sempre com palavras de carinho para aliviar o fardo de quem a procurasse. Porque mesmo com o passar dos anos não perdeu o coração de menina. E, por este motivo, sente-se realizada.
    Estou a observá-la dormir. Não a enxergo, porém, com as marcas do tempo. Eu a vejo, de vestido amarelo, correndo por um jardim de margaridas. As meias brancas vão até os joelhos. Os sedosos cabelos adornados com fitas de cetim. Corre menina... Corre... Não se preocupe com o que os outros vão dizer... Porque, no final, só restarão as lembranças do que teve coragem de fazer. (Autora: Aline Brandt - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais N° 9610/98)

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