Alice no País das Maravilhas... Precisamos falar sobre os senhores do crime.

 

A humanidade está se perdendo... Sim!!! Faz tempo que constatamos a falta de empatia no dito “ser humano”. Comemorações após a “operação policial” realizada, em dias recentes no Rio de Janeiro, são prova disso. Mais de cento e vinte mortes resultaram dessa ação. Entre os mortos estavam policiais e, pelo que foi apurado até agora, dezessete pessoas sem qualquer registro em Delegacia de Polícia e, tampouco, sem qualquer relação comprovada com o crime. E o que vimos? Muita gente comemorando - como se, finalmente, o Brasil tivesse obtido o tão sonhado hexacampeonato de futebol masculino.

    Precisamos lembrar que as mesmas vidas ceifadas que são por você menosprezadas, vidas pretas e pobres, são desprezadas pelos verdadeiros senhores do crime. E, desta forma, são substituídas com facilidade. Sabe aquele jovem que teve a cabeça decepada e você comemorou como se fosse um gol da Seleção Brasileira em final de Copa do Mundo? Ele já foi substituído por outro jovem. E sabe por quê? Porque você continua usando maconha para relaxar... Cocaína para descontrair... Êxtase para se divertir na festa rave. E não podemos esquecer das apostas que você tanto aprecia... Sabe as bets? Muitas delas são usadas para lavar dinheiro do crime organizado. E você é contra taxá-las! Imagine taxar as bets - o seu político de estimação é contra! Donos de bets e apostadores não podem pagar mais impostos! Afinal: “já se paga tanto imposto neste país para sustentar pobre vagabundo”.

    Você nada tem contra empréstimos milionários que as grandes corporações e os grandes plantadores de soja obtêm com facilidade e, muitas vezes, deixam de pagar. Também é favorável aos benefícios que grande parte dos políticos acumulam, de forma legal, mas imoral. Já que eles recebem “salários módicos”, nada mais justo do que aproveitar, ao máximo, diárias e outros penduricalhos. É legal!!! O problema, para você, é taxar bets para investir em programas sociais, saúde, educação, esporte, lazer...

  

     Enquanto os reais senhores do crime - aqueles que residem em mansões, usam roupas de grife, têm carros de luxo e passam férias nas Maldivas e em outros paraísos mundo afora - não forem combatidos, a violência jamais vai terminar. São esses senhores do crime, que lucram com a “diversão de final de semana”, que precisam parar atrás das grades. Sim!!! Você pode até comemorar a morte do preto da favela. Mas, como já escrevemos aqui, esse preto da favela, que mora em casa sem reboco, é vida sem importância - tanto para você quanto para os senhores do crime. E, claro, é facilmente substituído. Sempre tem alguém com fome por aí. E as coisas devem piorar. Já existem políticos tentando, inclusive, proibir que se distribua comida para os menos favorecidos. Como propalados cristãos são contra o aborto - mas depois que o ser humano nasce não se importam com o que acontece. Nada tem a ver se o ser humano vive privado do mínimo necessário para sobreviver e acaba, com dez ou onze anos, entrando para o mundo do crime para ter o que comer. Não é parente, né? Só queria que nascesse (mais um possível eleitor).

    Alice no País das Maravilhas!!! Saia do buraco em que caiu. Volte para o mundo real... A periferia carece de educação, cultura, esporte, lazer... Não precisa de tiro, porrada e bomba. É necessário olhar para quem mora na periferia como gente e não como “material descartável”. Operações, como a realizada recentemente no Rio de Janeiro, nada mais são do que manobras politiqueiras. Quem lucra de verdade, com o crime organizado, não está na favela. Está financiando político - inclusive o seu!!! E é desse tipo de gente que você precisa ter medo. É esse tipo de gente, que também empunha fuzil, que precisa ser alvo da polícia. E, enquanto esse tipo de gente estiver se beneficiando das fortunas obtidas tão facilmente, o Brasil jamais se livrará do crime organizado - e você jamais se livrará de quem rouba e até mata para sustentar o vício. (Escritora Aline Brandt/Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais Nº 6910/98)