Vamos pacificar este nosso paraíso...

 

    Aprendi muito cedo que, quando visitamos alguém, devemos seguir os costumes da casa. Aprendi muito cedo que, quando visitamos uma casa, jamais devemos desrespeitar quem nos acolhe. Aprendi muito cedo que, se não nos sentimos confortáveis em determinado lugar, precisamos evitá-lo. Aprendi isso quando ainda bem criança e me convenci de que são ensinamentos para toda vida.

    Fiquei sobremaneira decepcionada com o comportamento de alguns cidadãos - "acima do bem" - que estiveram, dia 12 de outubro, no venerado Santuário de Nossa Senhora Aparecida. Verdade!!! Vaias... Gritaria... Empurra-empurra. Uma lástima!!!

    Viu-se uma forma de comportamento que envergonha até criança recém-nascida. Não sou católica (minha religião é a consciência que tenho em relação a tudo que diz respeito ao existir universal). Só que, se entro em uma igreja católica (ou de qualquer outra linha), respeito rituais e crenças.

    Afinal: não sou obrigada a entrar em qualquer igreja e, se o faço em alguma, tenho que demonstrar, no mínimo, educação e respeito. Educação que também tenho por sinagogas, terreiros umbandistas, mesquitas, templos budistas... Enfim: o respeito é a base do que parte de mim para o mundo.

    Outra coisa que aprendi, muito cedo, é que vivemos em um estado laico (ou assim deveria ser). Isto quer dizer que, em nossos governos, religião e política têm que trilhar caminhos distintos. Neste país laico as pessoas têm o direito de manifestarem livremente suas crenças. Em estado laico todas as religiões devem ser respeitadas (ou não praticadas por quem por isso decidir).

    Quando determinado país usa a religião para "segregar" e impor poder as consequências são desastrosas. Cria-se uma rachadura no contexto cultural/filosófico/religioso. Corre-se o risco de que ninguém mais saiba que rumo tomar. E os santuários – tipo o de Aparecida (São Paulo) – acabam se tornando alvos de intolerância como a que presenciamos em 12 de outubro (também dedicado à criança).

É preciso lembrar que, no Afeganistão, o Talibã (grupo que se baseia no salafismo/uma forma radical do islamismo) sempre que retoma o poder defende a tradição, a fé e a família. No Afeganistão os cristãos são perseguidos... As mulheres são reprimidas (não podem estudar/trabalhar/são escravas dos seus donos). Este grupo radical (com uma mais que milenar ordem de moralismo), porém, faz enorme riqueza com a exportação de ópio e heroína.

    A Organização das Nações Unidas (ONU) estima o faturamento do Talibã, nesta linha de comercialização, apenas em 2018 e 2019, em mais de 400 milhões de dólares (o que equivale a 60% da renda total de suas atividades econômicas).

    Também aprendi, muito cedo, a respeitar pessoas (independentemente de cor, orientação sexual, profissão, classe social...). O que presencio, atualmente no Brasil, me assusta. Comunicadores são agredidos e hostilizados no exercício da profissão. Se hoje olhamos para o lado, no trânsito, corremos o risco de sofrermos o mais cruel desacato da parte dos "esquentadinhos". E como tem esquentadinhos soltos em nossas ruas!!!

    Sou gremista. Mas o azul não é a cor que mais gosto. Muitas outras estão no meu guarda-roupas. Porém, em tempos recentes, escolho com muito cuidado, ao sair às ruas (mesmo para fazer compras no supermercado), a cor que não vai me acarretar problema. E eu não preciso colocar aqui as cores que estão gerando conflito por aí. Você vive, como eu, esse triste martírio.

    Não pense que isso tudo me desanima. Sou um ser de fé e coragem. Rezo... Torço... Estou convicta de que o Brasil voltará a ser o país de todas as cores... De todas as religiões... De respeito às diferenças... E, principalmente, o Brasil de todas as pessoas... O Brasil que satisfaz os sonhos da pluralidade. Um país de paz, amor, gentileza, comida na mesa e oportunidades.

    Sim... Eu sou um ser de fé. Quem sabe você que me lê neste instante ganhe um pouco mais de fé para, também, rejeitar aquilo que não lhe agrada. (Escritora Aline Brandt - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais n° 9610/98)