Sobre chuva e passarinhos

   
    Escrever é uma arte. Não se pode fazê-lo por obrigação... É preciso haver inspiração... Vontade... E sentimento... Muito sentimento.
   Posso em minhas crônicas, às vezes, me tornar repetitiva... Mas escrevo o que sinto... Na bora em que sinto. E se repetir livros e escritores não é por falta de repertório. Guardo centenas de obras, de variados autores, em minha memória. Todas bem guardadinhas esperando o momento certo de serem comentadas.
    Hoje (25/4/2016) chove em Carazinho (RS)... Uma chuvinha mansa... Daquelas que convidam a gente para ficar no aconchego de casa - apreciando uma boa leitura e degustando uma xícara de café. Olhando a chuva, através da vidraça do escritório, lembrei de uma poesia de Mario Quintana: "Canção de Garoa". E, sorrindo, pensei: "Como não amar Mario Quintana?". Em sua simplicidade - e genialidade - criou uma poesia (ou frase) para cada dia do ano... Para cada fase da vida... Para cada tipo de pessoa.
    Mario Quintana é um raríssimo talento que consegue fazer do banal algo extremamente agradável. Folheando, dias atrás, Prosa & Verso vi frases que me fizeram rir e refletir sobre os mais variados assuntos... "O seguro morreu de guarda-chuva", "Amar é mudar a alma da casa", "A recordação é uma cadeira de balanço embalando sozinha", "Cidade grande: dias sem pássaros, noites sem estrelas"... Coisas simples, porém verdadeiras, que fizeram Mario Quintana ter lugar cativo em meu coração... E esse não é um privilégio só meu... Acredito que esse fantástico poeta tem lugar garantido nos corações de milhares de brasileiros. Desejo para hoje e para sempre mais pássaros e mais estrelas em todos os caminhos. (Autora: Aline Brandt - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais N° 9610/98)

Canção de Garoa
    Em cima do meu telhado,
    Pirulin lulin lulin,
    Um anjo, todo molhado,
    Soluça no seu flautim.

    O relógio vai bater;
    As molas rangem sem fim.
    O retrato na parede
    Fica olhando para mim.

    E chove sem saber por quê...
    E tudo foi sempre assim!
    Parece que vou sofrer:
    Pirulin lulin lulin...
    (Quintana, Mário. Prosa & Verso. Porto Alegre: Editora Globo, 1980. Pág. 13)

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