A mulher da minha vida...

 

 

Augustin Pullmann, personagem principal do livro Extraordinário (de R. J. Palacio), disse que “todo mundo deveria ser aplaudido em pé, pelo menos uma vez na vida, porque nós vencemos no mundo”. Depois da edificante leitura de Extraordinário não pude deixar de pensar nas milhares de pessoas que, apesar das lutas diárias, dos desafios inevitáveis (quase sempre superados) e das conquistas obtidas (por menores que possam parecer aos olhos dos outros) não têm suas histórias oficialmente contadas e não experimentam o gosto de serem aplaudas em pé. Afinal: costumamos reconhecer (e aplaudir) somente quem alcança visível poder, abundante riqueza material ou espaço privilegiado no cenário das celebridades.

Entre estas milhares de pessoas, que não têm nomes em livros de história ou destaque nas colunas sociais, está minha mãe. Sim!!! Minha amada mãe Clari que, ao lado de meu pai Celito, supera constantes dificuldades e pode dizer, de peito aberto, que criou, com muita dedicação e carinho, quatro filhos aptos para a ação em sociedade.

Clari Brandt... Este é o nome da mulher da minha vida. Menina inteligente, bonita e sonhadora... Estudante inquieta, considerada irreverente, se obrigava a dar explicações constantes na secretaria - porque, nas décadas de sessenta e setenta, hiperatividade era vista como desobediência. Poderia ser modelo, atriz, empresária, advogada, política... Mas, filha de descendentes italianos, nascida no interior do Rio Grande do Sul, foi criada para ser mãe e dona de casa.

Clari, ainda muito pequena, ajudava o pai Leopoldo e os irmãos, sem contestação, na atividade rural. Plantava. Colhia. Alimentava animais. A força dos seus bracinhos era indispensável. Aprendeu, com a mãe Luiza, bem cedo, a cozinhar e cumprir outras tarefas domésticas. Tinha, entretanto, o hábito de subir em árvores... De correr pela propriedade... De brincar com os onze irmãos. De fazer visitas frequentes aos avós. Foi criança cheia de energia.

Aos doze anos deixou o seio familiar e foi, com o aval dos pais, trabalhar em uma “casa de família”. Queria estudar... Ganhar diplomas... Ter vida de mais oportunidades. O trabalho era duro... Os sonhos, contudo, a tiravam da cama, todos os dias, bem cedo. Cumpria, com desvelo, as tarefas que lhe eram designadas.

O tempo foi passando... Os compromissos aumentaram. Os sonhos de menina tiveram que ser deixados de lado. Era vital que primasse pelas obrigações de mulher. Clari, ao lado de Celito, planejou uma família. E, na concretização deste plano, começou o meu amor pelos livros.

Meu pai era motorista. Passava longo tempo longe de casa. Minha mãe, para abafar a solidão, lia. Ficava horas com livro, jornal ou revista em mãos. Quando soube que estava grávida pensou que devia ler em voz alta. Então eu, antes mesmo de nascer, tive o privilégio de ouvir milhares de histórias.

Mãe dedicada e convicta... Depois que nasci passou a ler para mim muito mais histórias... Fábulas... Contos de fadas... Episódios de família. Os recursos financeiros eram escassos. Porém: ao chegar à idade de fazer minhas próprias leituras ganhei a coleção do Sítio do Pica Pau Amarelo (de Monteiro Lobato) e uma série de outros títulos que conservo na memória.

Não é só por este motivo que minha mãe deve ser aplaudida em pé. Poucos, atualmente, conseguem se colocar no lugar do outro... Raros os que se deixam sensibilizar com as histórias dos seus semelhantes. Dona Clari, entretanto, é pessoa de coração doce. Trabalhadora versátil, mulher de motorista, precisa levar o dinheiro contado, centavo por centavo, para honrar compromissos que assume. Em sua casa, porém, todos os que buscam ajuda são bem acolhidos. Ela é assim... Da casa de Dona Clari ninguém saí sem a ajuda que busca. Mesmo aos desconhecidos estende a mão. Não consegue ficar inerte frente às aflições alheias. Dona Clari Brandt, hiperativa, acha solução para todos que a procuram.

Minha mãezinha, por sua capacidade de se colocar no lugar dos outros, por sua gentileza, por seu amor, por sua disposição de ajudar - e por tantas outras virtudes - eu a aplaudo em pé!!! Seu frágil coração surpreende com o amor que espalha!!! Eu a amo... Você é mulher da minha vida!!!  (Escritora Aline Brandt/Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais N° 9610/98)

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