As musas de José

    Quando me formei em história, a 18 de dezembro de 2004, sonhava ganhar dezenas de livros... Afinal: meus familiares e amigos sabem da paixão que tenho pela leitura. Não importa se já li ou se tenho exatamente aquele livro em minha biblioteca... Se o livro foi comprado em um sebo ou se tem até dedicatória... O importante é o carinho de quem empregou um pouco de seu tempo para escolher algo de que tanto gosto.
    Mas ganhei dezenas de porta-retratos. Não gosto de porta-retratos. Prefiro álbuns. Porque as fotografias, dispostas em um álbum, contam histórias com início, meio e fim. É possível conhecer uma pessoa somente olhando seu álbum de fotografias. 
    Entre tantos porta-retratos ganhei alguns livros. Um destes livros, Lucíola (de José de Alencar), já conhecia. Tinha até um exemplar (condensado) em minha biblioteca. Gostei muito, entretanto, de recebê-lo de presente. Voltei a lê-lo dias depois. E foi de grande valia. Porque é preciso ter maturidade para compreender os chamados clássicos. Quando se é jovem, na maioria das vezes, a essência de um livro como este não é totalmente assimilada... 
    Depois desta releitura de Lucíola me apaixonei pelo estilo de José de Alencar - que é, de longe, meu escritor clássico favorito. Nesta obra José de Alencar fala de sentimentos... Da força do amor sincero - capaz de perdoar e trazer paz de espírito.
    O livro tem um final triste... Nem de longe o que eu esperava. Pode decepcionar pessoas que, como eu, gostam do "felizes para sempre". A vida, contudo, não é feita somente de alegrias e finais felizes. Por mais que se faça esforço tristezas e decepções chegam sem avisar. Nem tudo é fácil. Só que é preciso continuar...
    E o mais importante: é preciso fazer o possível para, no futuro, ter lugar de destaque em um álbum de fotografias e, principalmente, no coração e na alma daqueles que nos são importantes.
    No coração de Paulo, mesmo cheia de imperfeições, Lucíola permaneceu. Nem a morte apagou sua lembrança. José de Alencar sobre Lucíola: "Não será a imagem verdadeira da mulher que no abismo do perdão conserva a pureza d'alma?"
    "Há seis anos que ela me deixou; mas eu recebi a sua alma, que me acompanhará eternamente. Tenho-a tão viva e presente no meu coração, como se ainda a visse reclinar-se meiga para mim. Há dias no ano e horas no dia que ela sagrou-se com a sua memória, e lhe pertencem exclusivamente. Onde quer que eu esteja, a sua alma me reclama e atrai; é forçoso então que ela viva em mim. Há também lugares e objetos onde vagam seus espíritos; não os posso ver sem que o seu amor me envolva como uma luz celeste." (Alencar, José. Lucíola. São Paulo: Martin Claret, 2002. Pág. 140/141) 

(Autora: Aline Brandt - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais N° 9610/98)

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