Mãos dadas para sempre


    Não sou adepta a passeios coletivos. Aquilo que chamam de excursão nunca me foi muito atraente. Mas, em determinado momento, resolvi corrigir esse que considero um dos meus defeitos. Aderi a uma viagem turística, pelo nordeste brasileiro, organizada por pessoas da minha cidade.
    As experiências que vivi ao longo desse passeio compensaram o incômodo de ter que fazer o compartilhamento que sempre julguei inadequado. Não que o contato com as pessoas me seja incômodo. Mas eu sou do tipo reservada... Que não gosta de se deparar com aquilo que conflita por demais com meus princípios. Não espero, de forma alguma, a perfeição no ser humano. Há, porém, procedimentos que na convivência coletiva nos tiram do real conforto.
    Nessa viagem pelo nordeste, ao contrário do inconveniente cogitado, tive o privilégio de somar lições ao acervo que me será útil por toda a vida. Um dos casais presentes nesta excursão tinha elevada cultura e evidentes valores artísticos. O homem tocava todo tipo de instrumento e, quando cantava, prendia de forma efetiva todas as atenções. A mulher, dotada de profundos conhecimentos acadêmicos, era reverenciada pelos demais participantes do passeio.
   Veja você que casal perfeito. A falha só estava no fato de, entre os dois, inexistir qualquer cumplicidade. Para se ter uma ideia a mulher se fechava em mau-humor toda vez que o homem pegava o violão e, junto com agradável melodia, soltava a sua voz. O sujeito era terminantemente impedido de fazer o espetáculo que os excursionistas tanto desejavam porque a sua parceira não permitia.
    O casal perfeito, aos poucos, deixava transparecer os seus desencontros. Não se sabe porque - há quem diga que por ciúme - a mulher não permitia que o seu parceiro cantasse/tocasse. Contudo: estes eram personagens notáveis no grupo dos viajantes.
    Na plateia de tudo isso havia um outro casal... Sem dotes artísticos... Sem muita disponibilidade para a comunicação interpessoal. O que chamava atenção, nestes dois, era o fato de estarem sempre de mãos dadas. Dentro do avião. Fora do avião. No restaurante. Na fila do cinema. No passeio pela praia. Sempre de mãos dadas.
   Não resisti e fui pedir a receita para tanta harmonia. Parecia que os dois haviam nascido de mãos dadas. Não nasceram de mãos dadas. Só gostaram da primeira vez e nunca mais se deram ao desprazer da frustração de se comportar de forma diferente. 
   Perguntei: qual é o segredo para tanta harmonia/intimidade? Os dois responderam juntos... Mas vou colocar o que o homem disse. Não é difícil. É fácil. A gente, desde que se conheceu, adotou uma forma de procedimento. Quando ela é autoritária eu obedeço. Quando ela me corrige eu raciocino e identifico as suas razões. Mas, quando ela é carinhosa, vejo toda a almejada compensação.
    A nossa harmonia reside no fato da aceitação de virtudes e defeitos sem alteração de sentimentos. O ser humano é falho. Eu adoro as falhas da minha eterna companheira. Indagada, da mesma forma, a mulher respondeu... "Nada mais preciso dizer. Faço minhas as palavras dele. A gente se ama. Eu adoro as falhas do meu companheiro." (Esta obra nada tem a ver com a realidade de pessoas que eu possa aqui identificar. - Autora: Aline Brandt - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais N° 9610/98)

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