Dias de névoa e garoa

    Chove em Carazinho... O inverno está chegando... E os dias cinzentos, de névoa e garoa, se aproximam sem fazer cerimônia... Mas eu adoro esta época do ano. O aconchego do lar... Família reunida... Café (chocolate) quente... Bons livros... Filmes agradáveis na companhia de quem se ama. 
    E por falar em filmes... O cinza do dia me trouxe belas lembranças... Quando eu era adolescente me apaixonei por uma história de amor... Fiquei acordada até tarde, dezenas de vezes, na companhia de minha irmã Alice, só para assistir "O Morro dos Ventos Uivantes (versão de 1992)". O drama/romance de Heathcliff e Catherine me fez rir e chorar. É, na minha opinião, uma das mais bonitas histórias já colocadas em filmes/livros.
    Anos depois li o livro "O Morro dos Ventos Uivantes" (de Emily Brontë). A fascinação só aumentou. A história é ambientada em um lugar (belamente retratado no filme) bucólico e triste: o Morro dos Ventos Uivantes. A narrativa prende o leitor do início ao fim. Os diálogos são intensos... O mais marcante, entretanto, é a paixão avassaladora entre Heathcliff e Catherine. Um sentimento que ultrapassa o rancor e o ódio... Capaz de atravessar o tempo. Que permanece vivo mesmo depois da morte.
    Emily Brontë, descrita como introspectiva em muitas de suas biografias, escreveu um livro onde deixa transparecer seus sentimentos borbulhantes... Sentimentos que preferiu esconder do mundo. Não fosse pela publicação de "O Morro dos Ventos Uivantes" ninguém saberia que alma inquieta existiu dentro de um corpo tão frágil... Que ser humano de espírito iluminado foi Emily Brontë.
    Que sejamos todos, mesmo em dias de névoa e garoa, imensamente iluminados. Que a vida possibilite amor em abundância... Amigos verdadeiros... E carinho, bastante carinho, para aquecer a alma nos dias nem tão ensolarados.
    "(...) - Não lhe desejo torturas maiores do que as que eu sofro, Heathcliff. Desejo apenas que nunca nos separemos. Se a recordação das minhas palavras deverá desolar você mais tarde, pensa que debaixo da terra sentirei a mesma desolação e, por amor a mim, perdoe-me! Venha cá e ajoelhe-se! Você jamais me fez algum mal na vida. Vamos, se me guarda rancor, será uma lembrança mais cruel que a das minhas palavras um pouco duras! Não quer vir de novo para o meu lado? Venha!
    Heathcliff aproximou-se do encosto de sua cadeira e se inclinou por cima, mas cuidando para não deixar que ela visse seu rosto lívido de emoção. Ela se virou para olhá-lo, porém ele não lhe deu tempo de vê-lo. Afastando-se bruscamente, caminhou até e chaminé, onde permaneceu, em silêncio, de costas para nós. O olhar da sra. Linton o seguiu com desconfiança. Cada um de seus movimentos despertava nela novas emoções. Depois de o haver olhado longamente, recomeçou a falar, dirigindo-se a mim num tom de indignada decepção: 
    - Oh! Está vendo, Nelly, ele não se abrandaria um momento sequer para me salvar do túmulo. É assim que sou amada. (...)
    Um movimento de Catarina me tranquilizou um pouco. Ela ergueu a mão para enlaçar o pescoço de Heathcliff, que a segurava nos braços, e aproximar o rosto dele no seu. Ele, por seu lado, cobrindo-a de carícias frenéticas, dizia com selvageria:
    - Você me revelou agora quanto tem sido cruel... cruel e falsa. Por que me desprezou? Por que traiu meu coração, Catarina? (...)" (Brontë, Emily. O Morro dos Ventos Uivantes. São Paulo: Nova Cultura, 2002. Pág. 138/139)

(Autora: Aline Brandt - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais N° 9610/98)

    
    

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