Na velha estante: Reinações de Narizinho

    Minha mãe fazia parte, lá pelos meados da década de 80, do Círculo do Livro. Todos os meses recebia, pelo Correio, uma obra (capa dura) de algum escritor famoso - ou nem tanto.
    Imaginem a minha alegria quando começaram a chegar livros, para ler e colorir, de Monteiro Lobato!!! O primeiro volume da coleção "Reinações de Narizinho", com uma menina de cabelos negros e curtos e nariz arrebitado na capa, deixou-me sobremaneira empolgada.
   Eu era pequena. Ainda não sabia ler. Mas adorava a sensação de ter em minhas mãos algo tão cheio de magia. Minha mãe contava as histórias. Mas eu não via a hora de aprender a ler para "mergulhar" naquelas páginas.
    Após ser alfabetizada comecei a ter mais contato com as histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Porque minha mãe, com três filhas pequenas e uma casa para cuidar, não tinha tanto tempo livre assim para contar histórias.
    Monteiro Lobato foi, com certeza, minha grande influência na infância. As aventuras de Emília, Narizinho, Pedrinho e Cia eram fiéis companheiras.
    Ler o O Sítio do Pica-Pau Amarelo é muito gratificante. Esta obra desperta a imaginação de crianças e, também, de adultos. Lembro que cheguei a fazer de conta, quanto tinha uns oito ou nove anos, que era proprietária de uma agência dos Correios... Copiava todos os bilhetes e correspondências dos livros em um caderninho. Acreditava, assim, fazer parte das histórias...
    Em um mundo cada vez mais tecnológico acredito que não faria mal possibilitar, aos pequenos, contato com as aventuras criadas, em O Sítio do Pica-Pau Amarelo, por Monteiro Lobato. Na obra são abordadas, além de outros temas, a bondade e a importância das amizades verdadeiras e das coisas simples da vida. Com imaginação é possível até sentir o cheio do bolo de Tia Nastácia recém tirado do forno... E quem não gostaria de ter uma vovó tão doce e esperta como a Dona Benta? 
     Para quem não conhece - ou ficou com saudade dos tempos de infância - segue um pequeno trecho desta espetacular obra de Monteiro Lobato:
    "Numa casinha branca, lá no sítio do Pica-pau Amarelo, mora uma velha de mais de sessenta anos. Chama-se dona Benta. Quem passa pela estrada e a vê na varanda, de cestinha de costura ao colo e óculos de ouro na ponta do nariz, segue seu caminho pensando: — Que tristeza viver assim tão sozinha neste deserto... Mas engana-se. Dona Benta é a mais feliz das vovós, porque vive em companhia da mais encantadora das netas — Lúcia, a menina do narizinho arrebitado, ou Narizinho como todos dizem. Narizinho tem sete anos, é morena como jambo, gosta muito de pipoca e já sabe fazer uns bolinhos de polvilho bem gostosos. Na casa ainda existem duas pessoas — tia Nastácia, negra de estimação que carregou Lúcia em pequena, e Emília, uma boneca de pano bastante desajeitada de corpo. Emília foi feita por tia Nastácia, com olhos de retrós preto e sobrancelhas tão lá em cima que parece uma bruxa. Apesar disso Narizinho gosta muito dela; não almoça nem janta sem a ter ao lado, nem se deita sem primeiro acomodá-la numa redinha entre dois pés de cadeira. Além da boneca, o outro encanto da menina é o ribeirão que passa pelos fundos do pomar. Suas águas, muito apressadinhas e mexeriqueiras,  correm por entre as pedras negras de limo, que Lúcia chama as "tias Nástácias do rio". (...)" (Autora: Aline Brandt - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais N° 9610/98)

Comentários

  1. Parabéns maninha!!! Eu me lembro que eu colori toda a coleção de livros.

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    1. Obrigada querido irmão... Não mencionei você no artigo porque ainda não tinha nascido. Éramos, na época, somente três irmãs (Aline, Alice e Dalvana). E, alguns anos mais tarde, você (Leonardo) chegou para completar a família. Abraços.

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