Boneca de pano

    Lembro-me, com bastante saudade, de uma menininha de cabelos loiros e pele tostada pelo sol. Tinha uns três anos. Era fácil confundi-la com um menino já que gostava de andar descalça e subir em árvores. Preferia usar bermudas, ao invés de saias, porque adorava se sentir livre para pular, correr, dar cambalhotas...
    Esta menininha carregava para todo lado, embaixo do braço, uma boneca de pano bem desengonçada - que mais parecia uma bruxa... A boneca (maior do que ela) era, naquela época, sua fiel companheira de aventuras.  Mas também sabia compreender seus silêncios. Não exigia explicação.
   A menininha de três anos achava que o tempo demorava a passar. Queria crescer... Estudar... Descobrir o mundo... Conhecer lugares e pessoas... Aprender e ensinar... Ser independente para fazer o que tivesse vontade.
    Com o passar dos anos, entretanto, a menininha percebeu que não queria deixar para trás os sonhos e as alegrias de ser criança... Queria continuar brincando... Acreditando em contos de fadas... Imaginando finais felizes... Aguardando com bastante expectativa o natal. Mas o tempo é implacável. E a menininha cresceu...
    A menininha cresceu... As responsabilidades começaram a surgir. Mas, teimosa como ela só, resolveu continuar com alma de criança... Emocionando-se com as pequenas coisas da vida... Comemorando, com bastante alegria, natais, páscoas e aniversários... Apaixonando-se, todos os dias, pela maravilha de fazer parte deste imenso universo.
    Como é bom ter alma de criança! Porque mesmo em meio às adversidades é possível enxergar coisas boas. E o final feliz, para quem tem alma de criança, está sempre bem pertinho... Basta abrir uma porta ou atravessar uma rua. E, se o final feliz estiver demorando a chegar, é só sair a sua procura. Porque quem tem alma de criança não tem medo. Sabe que, assim como em aventuras e contos de fadas, tudo é possível. É só acreditar e criar caminhos para conseguir.
    E por falar nesta vontade de ser criança eternamente lembrei de "Peter Pan" (de J. M. Barrie)... Para quem não conhece a história, ou ficou com saudade, segue abaixo um trechinho...
    PETER PAN
   "(... ) É claro que Peter estava brincando com eles, pois ninguém consegue voar a não ser que tenha um pouco de poeira de fada soprada sobre si. Felizmente, como nós já mencionamos, uma das mãos de Peter estava toda suja de poeira de fada, e ele soprou um pouco em cada um dos três, obtendo resultados fantásticos. 
    - Agora, sacudam os ombros desse jeito - disse ele –, e vamos embora. Eles estavam cada um em sua cama, e o valente Miguel foi quem se soltou primeiro. Ele não teve bem a intenção de se soltar, mas se soltou, e foi imediatamente lançado para o outro lado do quarto.
    - Eu voo! - gritou ele, ainda no ar. João se soltou e encontrou com Wendy perto do banheiro. - Ah, que delícia! - Ah, que legal! - Olhe para mim! - Olhe para mim! - Olhe para mim!
    A maneira de voar deles não era nem de longe tão elegante quanto a de Peter - os três não conseguiam deixar de chutar um pouco o ar. Mas suas cabeças estavam encostando no teto, e quase nada é mais delicioso do que isso. Peter deu a mão a Wendy a princípio, mas teve que soltar, de tão indignada que Sininho ficou. Eles foram para cima e para baixo, e rodaram de um lado para o outro. A palavra de Wendy para descrever aquilo foi “celestial”. 
    - Ei! - exclamou João. - Que tal a gente ir lá para fora? (...)" (Barrie, J.M. Peter Pan. Edição Comentada e ilustrada. Zahar: 2012. Pág. 42)

(Autora: Aline Brandt - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais N° 9610/98)

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